RIO — O mundo do samba está de luto. Morreu Ubirany Félix do Nascimento, mais conhecido como Ubirany, aos 80 anos, um dos fundadores do tradicional grupo Fundo de Quintal, por complicações da Covid-19, na manhã desta sexta-feira, dia 11. Ele estava internado há mais de uma semana em uma clínica na cidade do Rio de Janeiro. Ainda não há informações sobre o velório e o sepultamento de Ubirany, que além de cantor, era compositor e percussionista.

Há oito meses, o cantor Sereno, outro integrante do grupo, foi diagnosticado com Coronavírus. No entanto, ele não chegou a ser hospitalizado. Sobre a morte de Ubirany, a assessoria disse, ainda, que a família e os amigos "se manifestarão em momento oportuno e espontâneo".

Ubirany introduziu o repique de mão

Ubirany (camisa jeans azul) com os integrantes do Fundo de Quintal Foto: Divulgação
Ubirany (camisa jeans azul) com os integrantes do Fundo de Quintal Foto: Divulgação

Ubirany foi junto com o irmão, Ubirajara, e outros amigos dos bairros de Ramos e Olaria, como Sereno e Walter Tesourinha, um dos fundadores do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, no início da década de 1960. Ubirajara assumiu a presidência do bloco desde o início e ganhou a alcunha de Bira Presidente.

Foi ali na quadra do Cacique de Ramos, sob as bênçãos da tamarineira, que uma série de invenções musicais deram origem ao movimento de renovação do samba que ficou conhecido como pagode, na virada das décadas de 1970 e 1980. Ubirany criou o repique de mão, a partir de uma adaptação do repinique, Almir Guineto uniu o banjo americano ao braço do cavaquinho e Sereno inventou o tantã para, nas suas palavras, "dar um chega pra lá no surdo". A nova instrumentação trouxe uma dinâmica diferente ao samba.

— Ubirany inventou um repique fechado em um dos lados e completava o pagode batendo com um anel no instrumento, o repique-de-mão — conta o historiador Luiz Antônio Simas. — Almir Guineto se inspirou na ideia de seu parceiro musical Mussum, e adaptou o corpo do banjo, instrumento tradicional da música folk norte-americana, ao braço do cavaquinho. Além da qualidade do som, a armação reforçada do banjo reduzia o risco de rompimento de cordas. O banjo passou a ser utilizado com apenas quatro cordas, utilizando o mesmo número de trastes e a afinação em ré-sol-si-ré do cavaquinho.

Morreu Ubirany Félix Do Nascimento, mais conhecido como Ubirany, aos 80 anos, um dos fundadores do tradicional grupo Fundo de Quintal, por complicações da Covid-19, na manhã desta sexta-feira, dia 11. Ele estava internado há mais de uma semana em uma clínica na cidade do Rio de Janeiro. Ele foi um dos dos pioneiros do pagode e criou o repique de mão.
Morreu Ubirany Félix Do Nascimento, mais conhecido como Ubirany, aos 80 anos, um dos fundadores do tradicional grupo Fundo de Quintal, por complicações da Covid-19, na manhã desta sexta-feira, dia 11. Ele estava internado há mais de uma semana em uma clínica na cidade do Rio de Janeiro. Ele foi um dos dos pioneiros do pagode e criou o repique de mão.

Simas destaca que a nova instrumentação trouxe uma dinâmica diferente ao bom e velho samba. O próprio Ubirany contou algumas vezes a história do repique de mão, criado, segundo ele, sem maiores pretensões.

"Certa vez, cheguei numa festa sem o tom-tom e me deram um repinique de escola de samba. Quando comecei a tocar, senti que ele era mais leve, mas precisava ser aprimorado", contou o músico, em entrevista ao site Catraca Livre. "Foi um processo lento, peguei um repinique do Cacique de Ramos e tirei a pele de um dos lados para que o som não ficasse preso ou abafado. Aí surgiu a questão de machucar a mão no aro do instrumento, que resolvi rebaixar. Ainda sentia o som sem nitidez, com sobras, então passamos a colocar aquelas travas de madeira que não são nada mais do que abafadores, que ajudam a produzir um som mais limpo. Assim foi criado esse instrumento que está aí até hoje, sem que eu tivesse pensado em qualquer tipo de patente. A maior gratificação mesmo é ver todo mundo curtindo."

 

Mais atuante como percussionista e cantor, Ubirany teve poucas composições gravadas pelo Fundo de Quintal. Entre elas, “Nova esperança”, em parceria com Mauro Diniz e Adilson Victor, no disco de 1984, “Seja sambista também”; e “Amor maior” (com Franco e Arlindo Cruz), no LP “Do fundo do nosso quintal” (1987).